Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Fernando Pessoa ou Ricardo Reis... assim nasce "O Ano da Morte de Ricardo Reis"



Via bibliografia activa no site da Fundação José Saramago
em, http://www.josesaramago.org/o-ano-da-morte-de-ricardo-reis-1984/

«Um tempo múltiplo. Labiríntico. As histórias das sociedades humanas. Ricardo Reis chega a Lisboa em finais de Dezembro de 1935. Fica até Setembro de 1936. Uma personagem vinda de uma outra ficção, a da heteronímia de Fernando Pessoa. E um movimento inverso, logo a começar: “Aqui onde o mar se acaba e a terra principia”; o virar ao contrário o verso de Camões: “Onde a terra acaba e o mar começa”. Em Camões, o movimento é da terra para o mar; no livro de Saramago temos Ricardo Reis a regressar a Portugal por mar. É substituído o movimento épico da partida. Mais uma vez, a história na escrita de Saramago. E as relações entre a vida e a morte. Ricardo Reis chega a Lisboa em finais de Dezembro e Fernando Pessoa morreu a 30 de Novembro. Ricardo Reis visita-o ao cemitério. Um tempo complexo. O fascismo consolida-se em Portugal.»




"A Estátua e a Pedra"
Fundação José Saramago
Página 26

(...) E assim, com a admiração por um lado, mas com um rancor surdo por outro, fui vivendo, até que uma tarde, em Berlim, descansando de um passeio excessivo, na sonolência que leva a nossa mente de um lugar a outro, caiu-me do tecto uma evidência: o ano da morte de Ricardo Reis. Isto é, pensando em Pessoa, que morreu em 1935, não deixou escrito em lugar algum a data da morte de Ricardo Reis, pensando que o heterónimo não pode viver muito mais que o criador, pensando que todos temos nove meses de vida que não contamos porque não vivemos fora das nossas mães, pensando que talvez depois de mortos possamos contar com outros nove meses de vida, que será mais ou menos o tempo que dura a nossa memória, pensando em tudo isto, a sentença que me caiu do tecto, «o ano da morte de Ricardo Reis», misturada com o antigo rancor e a permanente admiração, animaram-me a confrontar com Ricardo Reis com o espectáculo do mundo no ano da sua morte que, na minha lógica, teria de ser em 1936, quer dizer, o ano em que começou a Guerra de Espanha, o ano que a besta fascista ocupou a Etiópia, o ano em que o nazismo consolidou posições, o ano em que se criaram as mocidades e as milícias fascistas em Portugal... (...)
(...) Ricardo Reis, o poeta das odes maravilhosas, sentava-se diante do mundo, como se de um pôr do sol se tratasse, e vendo o que se estava a passar, sentia-se sábio. Assim nasceu este romance, que tão-pouco é histórico, que é a resolução de uma fascinação e de um calafrio. (...)

Esperanza Fernández, canta José Saramago no Dia do Desassossego



Dia(s) do Desassossego, de 15 a 17 de novembro

Novembro levou-nos Pessoa e trouxe-nos Saramago.

Para os celebrarmos, pegámos na palavra Desassossego, impressa na capa do Livro de Bernardo Soares, semi-heterónimo de Pessoa, e na frase repetida por José Saramago, “Vivo desassossegado, escrevo para desassossegar”, para propor que os dois grandes escritores tomem as ruas e que as suas palavras ecoem, desassossegadoras, pelas ruas da cidade.
De 15 a 17 de novembro Lisboa será palco de uma série de actividades que marcam a terceira edição do Dia do Desassossego, uma iniciativa da Fundação José Saramago que conta este ano, pela primeira vez, com a parceria da Casa Fernando Pessoa.
Leituras de textos, concertos, visitas às casas que mantêm vivos os espíritos dos escritores, juntam-se à apresentação de uma revista académica e a um percurso pedestre pela cidade de O Ano da Morte de Ricardo Reis, que é também a da vida de Pessoa.

Façamos desse(s) dia(s) um momento em que as pessoas saiam à rua com livros nas mãos e se leia com a força criadora com que Pessoa e Saramago escreveram.

De 15 a 17 de novembro, deixe-se desassossegar por um livro!

Organização: Fundação José Saramago; Casa Fernando Pessoa; Teatro Nacional de São Carlos; Teatro Municipal São Luiz




Disco: Mi voz en tu palabra. Esperanza Fernández

Aqui em, http://www.revistalaflamenca.com/inicio/link-horizontales/discos-de-flamenco/Esperanza-Fernandez-Mi-voz-en-tu-palabra 5/11/2013

Esta vez el poeta portugués José Saramago ha inspirado a la cantaora sevillana y lanza lo que será un trabajo discográfico con tintes más íntimos que se presentará el 26 de Noviembre en el Teatro Fernán Gómez de Madrid. 

La poesía siempre ha estado ligada al cante flamenco, desde "Demófilo, padre de los hermanos Machado y Federico García Lorca, han sido muchos los poetas que ha resurgido en la voz de los artistas del cante jondo, como Juan Ramón Jiménez, Miguel Hernández, Rafael Alberti o el místico poeta sufí Ibn Arabi. 
Con el paso de los años y la garganta curtida, el nuevo disco de la Fernández se intuye sutil, dulce, como el latido que ha despertado en ella los versos del portugués José Saramago. Como un reto se le presentaba a la cantaora de Sevilla, la cual estamos acostumbrados a escucharla con poderío, sentencia y raza. La sensibilidad le ha tocado el quejío investigando en sus melismas los registros inexplorados para que la poesía sea flamenca. 

El nuevo disco titulado "Mi voz en tu palabra" se presenta con diez cortes, abriendo el libro de cante y poesía un garrotín que lleva por nombre "A ti regreso mar". Le sigue un cante de compás libre, una adaptación de tanguillo, soleá, tangos, malagueñas y abandolaos, bulerías a diferentes tiempos, canción flamenca y remata con el cante a la intimidad, por bulerías: 

En el silencio más hondo de esta pausa, 
Donde la vida se hizo eternidad, 
Busco tu mano y descifro la causa 
De querer y no creer, final, intimidad.

Imaginar estos versos en la voz de Esperanza es un gran homenaje a la vida, al arte y sobre todo al poeta humilde, humano y con unos valores morales que lo hacían un ser justo y un maestro de la existencia, ese es el José Saramago que Esperanza Fernández nos presenta en su voz, con su mirada y su conocimiento.

Las pistas que tenemos nos hacen imaginar el cuidado detalle del disco, ya que aparece como director musical, arreglista y editor David Peña "Dorantes" en ocho de los temas y en los dos restantes José Miguel Évora. 
Cabe destacar también la elección de las poesías, que han corrido a cargo de Juan Blanco y la propia Esperanza.

Falta escucharla en directo, ahí es donde se respira la savia de un trabajo bien hecho. Sabemos que la voz y la personalidad de la artista sevillana a cambiado de registros en varias ocasiones y ha sido capaz de adaptarse a interpretaciones como “La Vida Breve”, ”El Amor Brujo”, “ Siete Canciones Españolas” , la ópera "Margot" o al flamenco más rancio donde es una pantera negra de rajo y sabiduría.

Madrid será la primera puesta en escena el 26 de Noviembre dentro del marco de la undécima edición de la "Mostra Portuguesa", con las guitarras de Miguel Ángel Cortés y Eduardo Trassiera, el contrabajo de Yelsi Heredia, la percusión y el compás de Jorge Aguilar y José Fernández y como colaboración especial, el baile de Sonia Olla. Allí se podrá saber si Esperanza Fernández se ha vuelto poetisa, o si José Saramago flamenco. 

REPERTORIO:

01 A ti regreso Mar (Garrotín)
02 Dimisión (Libre)
03 En esta esquina del tiempo (Tiempo atanguillao)
04 Dijeron que había sol (A Tempo de Soleá)
05 Alegría (Tangos)
06 Balada (Malagueñas y Abandolaos)
07 Ha de haber (Tiempo de Bulería)
08 Alzó una rosa
09 Madrigal (Lenta Bulería al golpe)
10 Intimidad (Bulería al golpe)

Dirección musical, arreglos y ediciones DORANTES, excepto temas 4 y 9, José Miguel Évora - Producción y edición discográfica: DISCMEDI S.A. Producción Ejecutiva: Icart (Juan Blanco Noriega) Grabado en ESTUDIOS DORANTES de Sevilla en 2012 y 2013 excepto temas 4 y 9 grabados en ESTUDIOS LA CALLE DE LA LUZ – Dirección Artística: Borja Évora (Sanlúcar de Barrameda) en 2013 – Grabado, Mezclado y masterizado por Eduardo Ruíz – Selección de poesías: Juan Blanco y Esperanza Fernández


Citador #4 Saramago nas palavras da amiga Carmélia Âmbar



Carmélia Âmbar, amiga de José Saramago aborda o Prémio Nobel

"Uma Longa Viagem com José Saramago"
João Céu e Silva
Porto Editora, pág. 38

(...) «Foi um conto de fadas lindíssimo, extraordinariamente bonito e de uma simplicidade e naturalidade superiores. Assim como um momento de encantamento que nem parece ser real, com emoções enormes, de admiração e respeito. E eu via-o tão sereno e tranquilo como se fosse a coisa mais natural da sua vida - quando ele me pediu ajuda para pôr todas aquelas medalhas eu estava mais nervosa do que ele - embora estivesse sempre com aquele ar refilão a dizer 'Que coisa eu não nasci para isto' e o Zeferino, radiante, de casaca, que nele é uma coisa rara, respondia-lhe 'pois, eu, para isto é que nasci'. E depois o discurso... ninguém esperava porque os prémios Nobel não fazem um discurso daqueles! Isso é que lhe dá a aura que tem hoje em dia». (...)